Certamente os mais jovens não ouviram falar a expressão “marca barbante”. Em outros tempos, a produção de cerveja no Brasil era artesanal. Apesar de ser utilizado cevada importada, não tinha a qualidade das cervejas alemãs. Essas cervejas nacionais feitas artesanalmente eram armazenadas em garrafas fechadas com rolha. Acontecia que, por muitas vezes, devido à má pasteurização e a fermentação, a rolha não agüentava a pressão e “explodia”. Para evitar esse tipo de perda amarrava-se a rolha com um barbante. Como essas cervejas não tinham boa qualidade, começou-se a chamar de “marca barbante” tudo aquilo que não era muito bom. Daí a expressão muito usada até uns anos atras: “Marca Barbante”.
Como seria a cidadezinha de São Paulo pelos idos de 1852? Os cronistas já procuraram reconstruir-lhe o aspecto. Era despovoada e suja. Modorrava ao sol.
Boiadas rumavam para os campos realengos do Ibirapuera. Pelas ruas transitavam os carros de bois carregados de cereais, de lenha, de terra, de pedras, de madeiras para construções.
O ano de 1872, foi de grande progresso que alvoroçou o paulistano. Inauguraram-se os lampiões a gás e logo depois as “diligências por trilhos de ferro”.
O serviço de bondes, propriamente puxados a burro, só se iniciou a 2 de outubro de 1872, na presidência de João Teodoro. Eram minúsculos, muito estreitos e comumente tinham três bancos. os maiores contavam cinco. Só em 1887 foi inaugurada a linha do Brás, “partindo da estação seis bondes embandeirados até o ponto final que era a estação do norte”.
Nos últimos tempos da monarquia, trafegavam 34 carros de passageiros e 9 de carga. havia linhas para a Liberdade, Moóca, Brás, Marco da Meia Légua, Luz, Santa Cecília e Consolação. Os carros tinham sete ou oito bancos, e eram puxados por um ou dois burros.
Em tão ditosos tempos, os grandes passeios que se podiam fazer de bonde em São Paulo eram dois. a primeira dessas excursões no “Marco da Meia Légua”, pelos confins do Belenzinho, na estrada da Penha. O Marco constituía uma espécie de recanto campestre. havia por lá umas chácaras, numa das quais morava um pacato e bonachão germânico, o João Boemer, que possuía uma fábrica de cerveja chamada “cerveja da penha”, a 500 réis a garrafa! A estrangeira ou a do rio - marcas Pá, Viena, Franzizkaner - eram vendidas a 1$500 (um mil e quinhentos contos de réis)! vejam: coisa só para rico...
O outro passeio era a “volta da consolação”. assim se chamava o circuito do bondezinho que rodava pela rua Dona Maria Antônia, indo da rua Dona Veridiana para a da Consolação, por onde regressava à cidade e vice-versa. A rua Dona Maria Antônia - descrevem-na os que a viram - era um bonito pedaço de estrada barrenta, ornada de vegetação luxuriante e barranqueiras pitorescas. De lá se avistava a cidade, ao longe.
Na rua da Consolação, mais ou menos da igreja para cima, não havia calçamento, e era toda enxameada de casinholas miseráveis, que rareavam à proporção que a gente se aproximava do Cemitério da Consolação, completamente fora do perímetro urbano. Aquilo por ali já era mato. basta dizer que, ao redor do campo santo, havia uns capões densos e cerrados, de causar medo, onde se escondiam bichos e onde o paulistano, nos dias de domingo, ia caçar perdizes.
Depois do cemitério, estendia-se a velha estrada de pinheiros, verdadeiro sertão bruto! Quem se arriscasse por ali tinha de ir bem armado, do contrário, corria perigo. De noite, então, nem é bom falar. Não havia valentão que se atrevesse. A coisa era de pôr os cabelos em pé.
Os bondezinhos puxados a burros rolaram pelas nossas ruas até o dia 3 de maio de 1900, quando foram substituídos pelos carros elétricos da light. A linha Ponte Grande - Santana funcionou ainda por algum tempo.
Os bondes movidos a eletricidade chegavam até a Ponte Grande. Daí até Santana os passageiros iam nos calhambeques da Empresa de Bondes de Santana. Os famigerados bondezinhos de burros, apesar dos pesares, prestaram bons serviços, embora de vez em quando, “os distintos cavalheiros de cartola e colarinho duro” tivessem de descer para rebocá-los sobre os trilhos. E isso rolou durante mais de 20 anos, portanto até o começo daquele século. Foi quando os paulistanos, diante do surto sempre vertiginoso da cidade, que crescia e começava a progredir a olhos vistos, passaram a reclamar transportes melhores e adequados. A grita era grande. Dali a pouco, a Light & Power encampava os serviços.
A última linha de burros foi a de Santana, uma empresa à parte.
(São Paulo dos Nossos Avós – Raimundo de Meneses)
Como seria a cidadezinha de São Paulo pelos idos de 1852? Os cronistas já procuraram reconstruir-lhe o aspecto. Era despovoada e suja. Modorrava ao sol.
Boiadas rumavam para os campos realengos do Ibirapuera. Pelas ruas transitavam os carros de bois carregados de cereais, de lenha, de terra, de pedras, de madeiras para construções.
O ano de 1872, foi de grande progresso que alvoroçou o paulistano. Inauguraram-se os lampiões a gás e logo depois as “diligências por trilhos de ferro”.
O serviço de bondes, propriamente puxados a burro, só se iniciou a 2 de outubro de 1872, na presidência de João Teodoro. Eram minúsculos, muito estreitos e comumente tinham três bancos. os maiores contavam cinco. Só em 1887 foi inaugurada a linha do Brás, “partindo da estação seis bondes embandeirados até o ponto final que era a estação do norte”.
Nos últimos tempos da monarquia, trafegavam 34 carros de passageiros e 9 de carga. havia linhas para a Liberdade, Moóca, Brás, Marco da Meia Légua, Luz, Santa Cecília e Consolação. Os carros tinham sete ou oito bancos, e eram puxados por um ou dois burros.
Em tão ditosos tempos, os grandes passeios que se podiam fazer de bonde em São Paulo eram dois. a primeira dessas excursões no “Marco da Meia Légua”, pelos confins do Belenzinho, na estrada da Penha. O Marco constituía uma espécie de recanto campestre. havia por lá umas chácaras, numa das quais morava um pacato e bonachão germânico, o João Boemer, que possuía uma fábrica de cerveja chamada “cerveja da penha”, a 500 réis a garrafa! A estrangeira ou a do rio - marcas Pá, Viena, Franzizkaner - eram vendidas a 1$500 (um mil e quinhentos contos de réis)! vejam: coisa só para rico...
O outro passeio era a “volta da consolação”. assim se chamava o circuito do bondezinho que rodava pela rua Dona Maria Antônia, indo da rua Dona Veridiana para a da Consolação, por onde regressava à cidade e vice-versa. A rua Dona Maria Antônia - descrevem-na os que a viram - era um bonito pedaço de estrada barrenta, ornada de vegetação luxuriante e barranqueiras pitorescas. De lá se avistava a cidade, ao longe.
Na rua da Consolação, mais ou menos da igreja para cima, não havia calçamento, e era toda enxameada de casinholas miseráveis, que rareavam à proporção que a gente se aproximava do Cemitério da Consolação, completamente fora do perímetro urbano. Aquilo por ali já era mato. basta dizer que, ao redor do campo santo, havia uns capões densos e cerrados, de causar medo, onde se escondiam bichos e onde o paulistano, nos dias de domingo, ia caçar perdizes.
Depois do cemitério, estendia-se a velha estrada de pinheiros, verdadeiro sertão bruto! Quem se arriscasse por ali tinha de ir bem armado, do contrário, corria perigo. De noite, então, nem é bom falar. Não havia valentão que se atrevesse. A coisa era de pôr os cabelos em pé.
Os bondezinhos puxados a burros rolaram pelas nossas ruas até o dia 3 de maio de 1900, quando foram substituídos pelos carros elétricos da light. A linha Ponte Grande - Santana funcionou ainda por algum tempo.
Os bondes movidos a eletricidade chegavam até a Ponte Grande. Daí até Santana os passageiros iam nos calhambeques da Empresa de Bondes de Santana. Os famigerados bondezinhos de burros, apesar dos pesares, prestaram bons serviços, embora de vez em quando, “os distintos cavalheiros de cartola e colarinho duro” tivessem de descer para rebocá-los sobre os trilhos. E isso rolou durante mais de 20 anos, portanto até o começo daquele século. Foi quando os paulistanos, diante do surto sempre vertiginoso da cidade, que crescia e começava a progredir a olhos vistos, passaram a reclamar transportes melhores e adequados. A grita era grande. Dali a pouco, a Light & Power encampava os serviços.
A última linha de burros foi a de Santana, uma empresa à parte.
(São Paulo dos Nossos Avós – Raimundo de Meneses)
OLá,acho este assunto muito interessante;pois meu avô Josepy morélli,tinha uma fabrica dessa cerveja marca barbante;onde mora em Cosmópolis interior de São Paulo,mas isso ja se fazem uns 80 anos ´nem cheguei a conhece-lo;pena não ter algum documento;pelomenos eu não o tenho.Moro em Santa Gertrudes cidade da telha ou pisofrio onde possui muitas cerâmicas,interior de São Paulo;sou filha de Arlindo Morélli, fico feliz de saber que essa cerveja aida existe;
ResponderExcluirAgradeço o seu comentário. Se tiver algum documento ou foto da época se quiser me mandar eu publico no Blog. Obrigado.
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