Este Blog conterá a história de minha família, bem como narrações de fatos pitorescos e interessantes ocorridos pelas gerações. Famílias: Addeu e Miorin (famílias ascendentes: Addeo, Naddeo, Nadeu, Sabbeta, Corsini, Bacete, Doratiotto, Visentin, Gaeta, e outras). Acima estão as montanhas de pedras brancas dolomíticas. Maravilha do norte da Itália. Se quiser falar comigo, abaixo das postagens, clique em comentário e deixe sua mensagem.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O Canivete de meu avô materno Eugênio Miorin

Meu avô materno Eugênio Miorin desde sua juventude usava cigarro de palha. Para os mais jovens talvez seja preciso explicar o que é isso. Meu avô comprava palha seca de milho e essa palha precisava ser alisada e cortada manualmente. Primeiro ele passava o canivete no meio da palha para “afinar” e “ajustar” a textura, fazia isso puxando e comprimindo a palha entre o dedo polegar e o lado cortante do canivete por várias vezes; depois ele cortava as pontas da palha e ela adquiria forma retangular. Isso ele fazia usando um bonito canivete que tinha. Posteriormente as palhas para esse tipo de cigarro já vinham cortadas e afinadas e eram embaladas em pacotinhos, prontas para o uso.

Para o fumo, meu avô comprava o chamado “fumo de corda”, isso porque o fumo enrolado parecia um rolo de corda preta. Havia várias marcas de fumos e  eram vendidos por gramas nas tabacarias. Um dia, eu fui à cidade e meu avô perguntou se eu poderia comprar um pedaço de fumo para ele: “cento e cinqüenta gramas”. Perguntei a ele qual deveria comprar e ele me disse para comprar o da marca “poço fundo” que era melhor, pois o da marca “goiano” não era bom; porém se não tivesse o “poço fundo”, poderia trazer o “goiano” mesmo. Então fui no centro da cidade e ao passar na tabacaria, me aproximei e vi que havia muitos rolos de fumo, uns grossos outros finos. Tinha muitas marcas diferentes. Então perguntei se tinha o “poço fundo” e o comerciante mostrou um rolo de fumo grosso e preto. Pedi para ele cortar a quantidade que meu avô havia pedido. Ele cortou, pesou, embrulhou e eu paguei. Por curiosidade perguntei sobre o fumo “goiano”. Era um rolo menor, fino e preto meio amarelado...

Trazendo para casa o pedido de meu avô, ele ficou muito contente e já logo desembrulhou para conferir o pedido. Como sempre, sentou na escadinha do alpendre lateral e começou a picar o fumo com seu canivete. Depois de muito bem picado ele o enrolava na palha já afinada e cortada. Com uma pequena tira de palha ele amarrava o cigarro para não abrir e com o canivete ainda dobrava as duas pontas da palha para não escapar o fumo. E assim ele fazia vários cigarros, para quando quisesse fumar já tinha pronto.

Claro que muitas vezes eu estava sentado ao lado dele, pois gostava de observar as coisas que meu avô fazia e também porque sempre vinha uma história familiar junto com tudo isso... e eu adorava.

Uma vez ele me contou como eram feitos os fumos, as folhas verdes que eram colhidas e colocadas para secar e enroladas com mel, fazendo uma grande corta. Havia o curtimento das folhas e a secagem certa. Não me lembro se também haviam outros ingredientes na confecção do fumo, ou mesmo se era defumado ou só curtido. Eu conhecia a planta do tabaco, porque um dia minha avó havia me mostrado.

Na verdade eu gostava mesmo é de estar ali, perto do meu avô, ouvindo as inúmeras histórias que ele sempre me contava. Não só o conteúdo das histórias, mas o modo que ele as contava são coisas difíceis de narrar aqui. Eu gostava muito de tudo isso.

Outra coisa de se notar era o canivete de meu avô, que parecia ser muito simples e muito usado. Tinha um cabo de madre-pérola amarelado e uma lâmina solingen alemã (Solingen não é marca, mas o nome da cidade Alemã onde se fazia o aço). Só quando fiquei mais velho é que soube disso. Era um canivete muito prático, bom e meu avô usava muito.

Uma das irmãs de meu avô, Celeste Miorin, era casada com Carlos Mauri. Inicialmente morava no Estado do Paraná e depois mudaram para São Paulo, no Bairro do Ipiranga (se eu não me engano). Ela vinha sempre nos visitar. Estando na minha casa vi o seu marido mostrar um canivete diferente: tinha uma lâmina larga, sem ponta, parecendo quase um facão em miniatura. Achei que meu avô gostaria de ter um canivete desses e acabei depois comprando um para ele, da marca Tramontina.

Assim que ganhou o canivete, meu avô ficou olhando aquela lâmina grande e passou a usa-lo. Depois comprei um outro canivete para ele, também da marca Tramontina, de lâmina larga, mas de ponta fina. Este último meu avô não gostou muito e continuava a usar o anterior. Eu não conhecia bem as marcas de canivetes, pois era jovem. A melhor marca que havia era “Corneta”, famosa. Esses canivetes antigos eram conhecidos também pelo apelido de “pica-fumo”. Apelido bem apropriado.

Os dois canivetes que eu dei para meu avô eram fortes e cortavam tudo, seria muito apropriado para quem trabalhasse na roça. Já o canivete antigo de meu avô (o alemão) era apenas para uso doméstico e comum: picar fumo e alisar palha, por isso era bem mais leve e fácil de trazer no bolso. Ao cabo de alguns meses, meu avô voltou a usar o seu antigo canivete que era mais prático, menor e melhor para carregar no bolso.

O Canivete é uma faca dobrável que guarda sua lâmina encaixando no próprio cabo. Tão antigo o canivete recebeu nos últimos anos melhorias tão grandes que acabou sendo objeto de colecionador, além de ser muito útil na vida comum.

No final do século XIX, Karl Elsener viu que o exército suíço comprava na Alemanha seus canivetes. Então resolveu desenvolver na Suíça tal arte de cutelaria e acabou por ser internacionalmente conhecido. De qualidade ímpar os canivetes suíços a principio tiveram duas versões: uma para os soldados e outra para os oficiais. Os canivetes vinham acompanhados de ferramentas para todas as ocasiões. Posteriormente a idéia se desenvolveu e acabou se criando um canivete para cada situação (são mais de duzentos tipos), embora alguns tenham tantas funções e são tão caros que passaram a ser objetos de colecionadores.

A melhor, a pioneira, sempre foi a empresa suíça de Karl Elsener, que com o advento do aço inoxidável e o falecimento de sua mãe Victória resolveu fazer uma homenagem passando o nome da empresa à Victorinox. 

No decorrer de minha vida acabei conhecendo o canivete suíço da marca Wenger. Esta empresa surgiu depois da Victorinox e se chamava Paulo Boechat & Cie, que depois foi adquirida por seu gerente geral Theodore Wenger. Aqui está a origem dos canivetes suíços Wenger. Seus canivetes eram mais baratos, porém entrou em crise e acabou sendo comprada pela Victorinox de qualidade inigualável. Os canivetes suíços são os melhores do mundo, tendo garantia vitalícia, eterna. Quem os têm sabe o quanto são úteis e práticos.

Aqui no Brasil antigamente as pessoas usavam mais canivetes, meu avô tinha alguns deles e bons. Na Europa o uso é mais comum. Quando fui almoçar em Paris, no sub solo da Igreja La Madeleine, um francês na minha frente estava descascando uma laranja com seu canivete suíço. Não pude deixar de ficar olhando. Ele percebeu meu interesse e me disse: “Este canivete é Suíço mesmo”. E continuou cortando sua laranja com dignidade e orgulho. Eu concordei com a cabeça.

Recentemente, ganhei de presente um canivete Suíço. The original Swiss Army - Rucksack (Canivete militar Suiço de mochila). Suas medidas, peso e funções foram desenvolvidos também para uso diário comum.

Embora seja muito parecido com o Swiss Army Forester (guarda florestal), tem diferenças. O Rucksack tem cabo vermelho fosco e é um pouco mais grosso, porém mais leve, do que o Forester (que é preto). Sua lâmina de corte é fortíssima, tendo uma trava diferenciada do canivete militar Forester. O cabo anatômico e rugoso é feito para encaixe perfeito na mão e serve para não escorregar, por isso não é vermelho brilhante. Ambos têm doze funções distintas e utilíssimas.

Alguns canivetes suíços são tão repletos de instrumentos e ferramentas que fica inviável carrega-lo. Dentre as funções de canivetes especiais encontrei até uma lâmina de plástico para raspar velas para passar nos esquis. Os canivetes não são diferentes por acaso, mas cada qual tem uma história, uma função, uma destinação especial de praticidade ou mesmo estético.

O bom mesmo é que o canivete possa ser levado com o seu proprietário, por isso deve ser leve e prático.

Na foto, mostro um canivete suíço com 100 ferramentas e até um revolver calibre .22 com capacidade para cinco balas. Foi produzido no século 19 (ano de 1880) para demonstrar a incrível habilidade dos artesãos da época. Suas medidas são 8,9 x 8,9 x 23,5 centímetros, nada fácil de se carregar. É um objeto de exposição no Buffalo Bill Centre of the West localizado em Wyoming, nos EUA, e pertence à Instituição Smithsonian.

Entre suas ferramentas, encontramos facas de todo tipo, diapasão, navalha, serras, punhais, canetas, lápis, espelho, garfinho para queijo, saca-rolhas, bisturí, corta-charutos, punhais, várias tesouras entre outros.

Fonte das fotos: Internet. Fonte das informações sobre canivete:
http://www.forttiori.com.br/site/home/8-webblog/499-canivete-suico-do-seculo-19-conta-com-100-ferramentas-e-ate-um-revolver

http://www.megacurioso.com.br/utensilios/39378-canivete-suico-do-seculo-19-conta-com-100-ferramentas-e-ate-um-revolver-.htm?utm_source=facebook.com&utm_medium=referral&utm_campaign=imggrande

2 comentários:

  1. Belo texto que faz a gente recordar nossa infância. Tenho vários canivetes antigos, inclusive os cornetas cabo de osso...parabéns pelo texto..

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