Andando pelo Bairro do Sacomã, na cidade de São Paulo, parei por um momento em frente à estação do metrô que tem o mesmo nome: Sacomã. Por alguns instantes meu pensamento voou para um passado distante. Nesse mesmo local, onde atualmente é uma estação de metrô, Rua Greenfeld, número 127, havia uma casa onde estava estabelecida uma firma individual denominada “Fuad Gabriel Abbud” – Seu nome era o nome de sua empresa. Era casado com a irmã de minha avó materna, Anna Naddeo.
Anos 1960-1968.
Minha maior preocupação quando resolvi escrever a história de minha família, sempre foi reunir fontes idôneas, desde a Imprensa Oficial (Diário Oficial), até documentos de arquivos públicos e particulares, livro e até músicas muito antigas onde eu tinha, na música e na letra, os costumes da época. Não faltaram as generosas colaborações de minha família vindo de todas as partes (textos, fotos, documentos...). A década de 60 foi de grande importância na minha vida, pois abrangeu minha infância. Nasci de família católica, recebendo de meus pais uma ótima educação. Tanto meu Pai quanto minha Mãe jamais mediram esforços para me oferecer o que há de bom e de melhor. Quando eu atingi a idade da juventude, e passei a entender um pouco melhor as coisas; ao visitar com meus pais os vários parentes maternos e paternos, compreendi que bondade era uma característica secular da família. Cada qual com seu jeito, cada qual com seu modo, mas havia uma harmonia da boa educação cujo traço ultrapassava os anos da história.
Se há uma conversa que me agrada muito é a história da família. Essa história, narrada pessoalmente pelos meus avôs e avós, pela minha bisavó materna com quem convivi por muito tempo, pelos meus inúmeros tios e tias, pelos primos e parentes mais velhos que eu, guardei em minha memória. Especialmente quando observava, em minha família, a preservação das tradições e dos bons costumes, então eu ficava horas e horas ouvindo sem cansar. Meu pai, ao recordar os fatos de família comigo já adulto, uma vez me disse: “O marido da Anna Naddeo era muito alegre, decidido, correto, acolhedor, amigo e tinha muita fé.”
Pelos idos tempos do ano de 1966, eu era ainda uma criança muito jovem, com apenas sete anos de idade, (meu Pai, minha Mãe e eu) visitamos minha Tia-Avó Anna Naddeo. Era tão bom conversar com gente que era a história viva de nossa família; pois, Anna Naddeo (irmã de minha avó Rosa Nadeu) era filha direta de imigrantes italianos e nossos costumes ainda estavam muito presentes no cotidiano familiar. Foi nessa ocasião que seu marido Fuad nos convidou para conhecer seu comércio, sua loja. Era uma loja bem arrumada, cheia de caixas e prateleiras, com um balcão comprido. É o que me lembro.
Sua filha, minha prima Sonia, lembrou: [...] “sua visita à loja deve ter ocorrido em 1966. Essa loja, super abastecida de armarinhos, papelaria e brinquedos, teve histórias. Recordo-me que quando fiz 6 anos de idade, meu pai insistia para que eu escolhesse de presente uma boneca Susy (na época, lançamento), mas eu exitava em aceitar a boneca. Ele frustrado pediu então que eu escolhesse o presente. Tal foi a sua surpresa quando apontei o que eu queria: uma mala escolar imensa e toda preta. Contrariado, acatou meu pedido!!!! Agora pensando o porque de uma criança de 6 anos não ter optado pela boneca (atração do momento); tudo bem, [...] eu como filha do proprietário do estabelecimento, que incluía brinquedos, já possuía diversas bonecas,” [...] “Obrigada!!! Lembranças a todos! Sônia.”
Voltamos ao passado de 1966. Na loja maravilhosa e cheia de novidades. A noite vinha chegando, e, como sempre, meu pai e o Fuad, conversavam descontraidamente, quando de repente, num ato de bondade, o Fuad pegou uma caixa numa prateleira e disse para mim:
- É para você.
Eu, que não esperava isso, peguei a caixa toda colorida e cheia de desenhos e, calmamente, observei tudo o que estava estampado nela. Ao abrir a caixa, descobri que era uma coleção peças para mágica (cartas, argolas, palitos, alfinetes de gancho preparados, tubos, bolas, e tantas outras coisas, para fazer meu show de mágicas). Meus olhos correram detidamente em todas aquelas inúmeras peças coloridas bem ajeitadas na caixa. Olhei para o meu tio-avô: um sorriso de satisfação em seu rosto. Não é preciso dizer que guardei com muito zelo aquele presente maravilhoso, que toda a criança gostaria de ganhar. Brinquei tanto com essas mágicas que acabei decorando todos os truques. Era uma imensa alegria, não só pelo brinquedo, mas pelo carinho com que me foi dado.
Sua esposa (que era irmã de minha avó materna) não era diferente. Sempre carinhosa, amiga, atenciosa. Sempre gostei muito deles. No entanto o Fuad sofria de trombose. E foi em 21/11/1.967 que uma triste noticia circulou de forma dolorosa: Fuad, muito jovem ainda, havia falecido. Jamais me esquecerei dele.
Deixou sua esposa e dois filhos pequenos, meus primos: Gabriel e Sônia.
Posteriormente, Anna Naddeo acabou se mudando para o Bairro do Paraíso, ainda na cidade de São Paulo, bem próximo a Igreja Nossa Senhora do Paraíso onde eu ia assistir a missa dominical. Algumas vezes, eu e minhas irmãs fomos visita-la. Depois de muitos anos Anna também veio a falecer, ficando apenas os dois filhos, meus primos, agora já maiores de idade.
Gabriel tem dois filhos: Julio César e Maria Cláudia.
Sônia tem um filho: Rafael
A uma família, várias outras se unem. Dessa união brotam maravilhas de tradição. Meu pai me contava que na festa de casamento de Fuad com Anna havia uma alegria contagiante. Comidas e músicas típicas, entre outras tantas coisas com as quais de festejava aquela união abençoada por Deus. Meu primo Gabriel, sempre quando me encontra, lembra do fato de que quando éramos pequenos, na casa de minha avó materna, tocávamos guitarra e violão juntos.
Hoje lembro com muita saudade de tudo isso.
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