Demorei muito para escrever alguma postagem sobre meu pai, porque falar dele, das lembranças das coisas que ele me contava, muito me emociona. Porém não tive como evitar a lembrança de um fatinho que ele sempre me contava. Tal lembrança me veio ao ler um livro chamado “Mooca – 450 anos” do escritor Euclydes Barbulho. O autor, sem duvida nenhuma, é uma pessoa singular e acabei conhecendo-o através de minha prima Cristiane Addeu Buen famosa artesã de doces incluindo chocolates, e pães de mel. Na coluna lateral direita deste blog tem uma indicação dos chocolates finíssimos de minha prima onde direciona para as fotos das festas e eventos especiais e de altíssimo nível de seu produto.
Euclydes Barbulho, homem de singular importância no bairro da Mooca – que coincidência – era amigo do meu avô paterno João Addeu. Ambos trabalhavam na industria de fogões da Semer S. A. (dos Irmãos Semeraro – como meu avô falava). Esse mundo é pequeno demais e na Mooca as sucessivas gerações sucedem também na amizade.
Eu e Euclydes Barbulho nos encontramos para tratar de assuntos relativos à história das famílias e da Mooca, já que ambos éramos estudiosos e escritores. Nesse encontro fui presenteado pelo próprio autor do livro “Mooca – 450 anos”. Tive a alegria de ter ainda uma dedicatória especial: “Ao Euclydes, meu xará e escritor, que com sua simpatia conquista as pessoas e à mim, um forte abraço.” (assinatura de Euclydes Barbulho e a data de 06/05/2014)
Não posso deixar de dizer que me surpreendi com a gentileza do autor e sua atenção especial. Tantas histórias para contar, tantas recordações, saudades dos anos de ouro e da imigração italiana de nossos ancestrais. A grande coincidência de nós dois termos o mesmo nome: Euclydes – e ainda os dois com “y”.
Ao ler o livro “Mooca – 450 anos”, por um momento me esqueci do mundo deixei o livro cair de minhas mãos e viajei na lembrança do passado... Na página 188, conta a história da Família Di Cunto – hoje famoso restaurante, salgadinhos e doceria da Mooca. Nem sempre o “Di Cunto” foi assim, antes era uma simples padaria. E que padaria, ao modo italiano!
Nos idos anos de 1934, depois de mortos os pais Di Cunto, os filhos decidiram reabrir uma antiga padaria fundada pelo pai em 1896 no bairro da Mooca. Entre os irmãos estava a irmã Michelina casada com Lorenzo. Essa Dona Michelina conheceu meu pai bem menino. E pelo que meu pai contava ela era uma senhora muito boa. Logo falarei da Sra. Michelina. De inicio foi difícil, tiveram que reformar todo o prédio, pois estava desocupado há quatro anos. Lorenzo era um hábil carpinteiro e ajudou muito a colocar a casa em ordem. E em 14 de março de 1935, os irmãos Di Cunto reacenderam o forno restaurado. Para alegria dos italianos e descendentes na região, a padaria era uma maravilha.
Muito comum na época venderem por caderneta, que os fregueses se propunham a pagar no final do mês, e por várias vezes recebiam “calotes”. Caderneta era um caderno pequeno onde se anotava o valor das compras. Mas com muito esforço e dedicação venceram as dificuldades e hoje a Di Cunto é a potencia maravilhosa que todos gostam.
A Padaria Di Cunto estava estabelecida (e ainda é) na Rua Borges de Figueiredo, bem próxima a uma antiga vila (que hoje não existe mais) onde morava a família Addeu: O Nono Paschoal Addeu e sua esposa Renata Sabetta, com seus vários filhos. A vila de casas servia primeiramente para manter a família com os alugueis, depois serviu de morada para os filhos que foram se casando. Um dos filhos de Paschoal Addeu e Renata Sabetta, era o meu avô paterno João Addeu.
É curioso como as coisas acontecem. Andando tranqüilamente pelas ruas do bairro do Belém, João Addeu acabou tropeçando na calçada e se não fosse rápido das pernas teria caído no chão. O tropeção parece ter sido engraçado, pois uma moça que estava na janela de sua casa acabou dando uma suave risada. Foi então que meu avô viu que estava sendo observado e diante dessa moça, retribuiu com um sorriso. Esse foi o primeiro contato que meu avô teve com essa moça que depois acabou namorando e foi sua esposa: Zilda Gomes de Andrade (descendente de família da alta sociedade paulistana, especialmente por parte de mãe. Seu pai tinha um cargo de confiança do Estado de São Paulo).
Casando-se João e Zilda, por um espaço de tempo foram morar na vila da Rua Borges de Figueiredo, muito próximo da Padaria dos irmãos Di Cunto. Desse casamento, nasceu apenas um filho, meu saudoso pai, Euclydes Cláudio Addeu.
Meu pai sempre me contava que, quando era pequeno, sua mãe pedia sempre que ele fosse na padaria Di Cunto comprar pães. E meu pai, ainda muito menino não tinha paciência de ficar aguardando na fila, e então ficava atrás da Dona Michelina pedindo insistentemente:
- Dona Michelina, me dê os pães; dona Michelina, me dê os pães; dona Michelina, me dê os pães; dona Michelina, me dê os pães; dona Michelina, me dê os pães.
Tanto que meu pai insistia, que a Dona Michelina passava meu pai na frente dos demais e lhe dava os pães e ele lhe dava o dinheiro que trazia enrolado na sua pequena mão. Não era comum ter o pãozinho que hoje conhecemos. O Pão era comprido e era chamado de bengala e vinha enrolado num papel.
Meu pai contava isso e ria muito, pois era uma outra época, onde as pessoas se conheciam e tinham um relacionamento muito bom e agradável.
Fonte: Livro “Mooca - 450 anos” de Euclydes Barbulho
As fotos são do meu pai quando era muito jovem.
As fotos são do meu pai quando era muito jovem.
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